17 de maio de 2008

O valor do namoro

14 de Fevereiro de 2006

O namoro sempre foi e será uma instituição importante na vida das pessoas. Nossa sociedade, porém, é muito superficial e tem a capacidade de banalizar as relações, tirando delas o verdadeiro valor. O que está acontecendo com o namoro é que, pouco a pouco, ele está perdendo a importância nas relações humanas e se reduzindo a momentos fugazes de prazer imediato, quase se transformando no que os jovens chamam de “ ficar”. Nada contra o prazer do encontro, sobretudo o sexual. O namoro, no entanto, vai além disso, na medida em que se trata da construção afetiva de pessoas que, em última instância, querem ser felizes. A primeira idéia do namoro, portanto, é de que ele é uma construção. Duas pessoas, até há pouco tempos, estranhas, se encontram e começam a modelar uma relação de intimidade, de troca, de compartilhamento. E é nessa dimensão que cada namoro é uma grande oportunidade de crescimento. Na relação com o outro, os limites aparecem.

As dificuldades ou defeitos vão esbarrar nas dificuldades e defeitos do parceiro e vão exigir desenvolvimento da flexibilidade, do diálogo, da tolerância, do respeito à condição “humana” – minha e do outro. Pensar no namoro como o encontro de pessoas “prontas”, caras-metades, almas gêmeas, tem sido responsável por grandes frustrações no encontro das pessoas e desenvolvimento do casal. O namoro é uma escola do amor. É caminho de aprendizado. E, de cada namoro que eventualmente terminou, a pessoa deveria sair melhor.
O namoro é também um espaço do desejo. É talvez a primeira grande escolha do jovem. É o primeiro terreno, onde, por maior que seja a insistência dos pais em participar, a pessoa sente que é um direito dela escolher. Em se fazendo sujeito da escolha, a pessoa se estabelece com ser humano e escolhe amar. O amor é uma escolha e é fundamental, porque as roas são todas iguais, mas na hora que você escolhe uma, ela passa a ser, absolutamente única. Como todo namoro, para ser namoro, tem de ter uma perspectiva de futuro, ele é também um depositário da esperança. A esperança é construída pela ação em torno dos sonhos, objetivos do amanhã. O encontro é universal e, embora saibamos que nada é permanente, o desejo em torno do amanhã nos dá uma possibilidade de fazermos o que está ao nosso alcance para viabilizar planos futuros em conjunto.


Namoro é tempo planejar amorosamente nossos desejos. A invenção do “ficar” , com seu significado original de conhecer melhor as pessoas antes de namora-las, é interessante e sábia. Usa-la, no entanto, para encobrir o medo do compromisso, o medo de amar ou o temos da rejeição, pode provocar a desvalorização das pessoas, a sensação de vazio e o aumento do medo. E é essa visão construtiva do futuro que alicerça o amor. Os dois se tornam aliados.Amor é aliança. Eu me alio a você para construirmos o mundo. Somos companheiros. Nesse sentido, a relação não pode tornar-se palco de competição e hostilidade. Embora cada um tenha vindo de um mundo familiar diferente, e tenha características diversas, o namoro, como infelizmente tem sido, não pode ser de disputa, de critica, de confronto. As brigas constantes dos namorados são os sinais da rivalidade, da inveja e do ciúme. Tratar desses sentimentos, tão nocivos à relação amorosa, é tarefa de qualquer namoro que queira realmente se transformar num momento de felicidade.


Khalil Gibran diz: “ Sejam como dois pilares que sustentam o mesmo teto, mas não comecem a possuir o outro; deixem o outro independente. Sustentem o mesmo teto: esse teto é o amor.” Respeitar os pontos fracos um dou outro, ficar alegre com a alegria do outro, aceitar o não de cada um constituem o alicerce dessa construção. Não se criticar, não querer mudar o outro, não produzir medo e culpa no outro são conseqüências. Namorar é a maior das brincadeiras humanas e, por isso, é uma atitude que deve ser levada muito a sério.


Credits: Jornal Estado de Minas - 12/02/2006 - Caderno Bem Viver, pág. 02

Nenhum comentário: